Muito bem, após contar algumas histórias “sem nomes” por aqui, chegou o dia em que vou “dar nome aos bois”, ou pelo menos a um deles (risos). Hoje vou contar uma história que aconteceu comigo há muitos anos atrás. Isso ocorreu em um período confuso entre a infância e a pré-adolescência. E eu só fui compreender há poucos anos tempo atrás. Hoje peço-lhes permissão para contar parte da história da minha vida, pois talvez esta tenha sido a forma mais “real” que encontrei de explicar um fenômeno que ocorre diariamente na vida de todos nós e sequer temos consciência disso.
Bom, vamos lá, esta história começa no início da década de 90, não sei exatamente a data (não quero me ater ao rigor numérico, apenas desenho uma linha de tempo de acontecimentos para que você acompanhe comigo) mas lembro que tinha algo em torno de sete anos quando meus pais se separaram. Sei que muitas crianças passaram por uma situação como essa no decorrer do último século, inclusive talvez até você, que está lendo este artigo, tenha passado por uma situação similar. Mesmo assim eu gostaria de ressaltar que a separação dos meus pais foi o ápice (negativo) de um relacionamento que não funcionava há algum tempo. No entanto, meu intuito aqui não é expor ninguém além de mim mesmo. Por isso não vou me ater aos detalhes do relacionamento de meus pais. É importante apenas pontuar que o processo de separação foi litigioso, longo e extremamente desgastante (pelo menos pra mim).
Ao mesmo tempo que isso acontecia, eu iniciava uma promissora carreira no “mercado de Bullying”. Sim, hoje eu sei o que fazia e arrependo-me por talvez ter sido vetor de muitos traumas. Mas naquela época, isso não tinha tanta atenção como hoje e muito menos orientação acerca do que poderia causar nas pequenas mentes. Aqui acho importante fazer uma pausa com aviso de Spoiler: O Bully (ou seja, aquele que comete o bullying) sempre é uma pessoa ferida, que não encontrou uma forma adequada de se expressar e por isso fere outras pessoas. Outra coisa importante, que entendi na prática sobre Bullying, é que a supressão da ação ou punição, na maioria das vezes acaba sendo inútil ou ainda piorando a situação. Em uma outra oportunidade vou contar alguns cases que acompanhei sobre o Bullying e o efeito que isso teve na vida de alguns de meus pacientes, bem como na minha própria.
Eu era uma criança comum, passando por um processo complicado em casa, que invariavelmente afetava minha vida escolar. Eu passava muito tempo sendo apresentado a diversos “tios e tias”. Eram eles os orientadores educacionais, as psicólogas, as psicopedagogas, os neurologistas, as psiquiatras, enfim, uma gama incrível de pessoas desagradáveis, que apenas ao falar sobre sua existência, parecia agradar à todos no colégio.
Simultaneamente a tudo isso, comecei a me descobrir “gostando” de algumas meninas na escola. Cada uma delas era carinhosamente tratada por mim como minha “namorada”, mesmo que nunca soubessem deste honorável título que eu lhes havia dado. E assim houveram meia dúzia de pequenas pessoas que chacoalhavam o coração daquele menino, a Aline, a Gabriela, a Ana, a Maiara, entre outras. A troca das “namoradas” normalmente ocorria por não correspondência nos sentimentos, ou seja: Elas não adivinhavam que eu gostava delas e eu acabava por não falar nada, já que tinha vergonha de não ser correspondido.
Mesmo que nunca falasse, eu ficava planejando diversas estratégias em minha cabeça, sobre como eu ia contar a elas, qual seria o momento ideal, ETC.. Frequentemente eu acabava desistindo de falar por medo de ser rejeitado ou mal interpretado. Até aí ok, eu tinha um background de rejeição em função da situação familiar, mas isso ia além. Até que um dia a história foi diferente, houve uma menina que estava correspondendo aos meus sentimentos (pelo menos na minha cabecinha perdida).
Esta menina havia sido minha colega desde a pré-escola e ainda não havia recebido aquela honrável titulação de “namorada”. De uma hora para outra parecia que tudo estava melhorando: eu havia encontrado a “solução dos meus problemas”! Agora era muito mais fácil, afinal, eu ia gostar de quem gosta de mim e além de tudo, ela era muito bonita, inteligente, legal, morava muito perto da minha casa, tinha boas referências familiares… (meu deus eu já pensava em tudo isso naquela época?!). Resolvi que ela seria promovida a minha namorada.
Obviamente não contei isso pra ela logo de cara, contei para a minha mãe, que contou pra mãe dela sem eu saber e comecei a me preparar para o “momento certo” em que me declararia e pediria mão dela (afinal, não é assim que a gente aprende nos filmes?). Passado algum tempo, acredito que nessa época eu já tinha uns 10 anos, surgiu a oportunidade perfeita: A minha festa de aniversário! Nenhuma data poderia ser mais oportuna senão o momento que todas as atenções estavam voltadas para mim, o que poderia dar errado? Afinal, se eu era o centro das atenções, quem não ia querer compartilhar um pouquinho dessa atenção comigo? Então, me enchi de coragem, fui pessoalmente convidá-la. Ela adorou o convite e disse que estaria lá, aumentando ainda mais minhas expectativas e esperanças, é claro.
Chegado o grande dia, eu estava mais interessado no paradeiro da menina que na própria festa. Eu estava planejando aquilo há tanto tempo e havia chegada a hora. Lá pelo meio da festa, tomei uma garrafa inteira de guaraná, já que ainda não conhecia vodca e fui em direção à parte externa do salão de festas, que ficava no quinto andar. Eu já havia descoberto que a menina estava lá fora e além disso, a maioria dos convidados estavam na parte interna, onde haviam salgadinhos, doces, refrigerantes, essas coisas boas de festas de crianças. Com tão poucas pessoas lá fora, praticamente não havia ninguém para atrapalhar o principal evento da minha infância/pré-adolescência.
Quando cheguei na porta que dividia o terraço do salão fui do céu ao inferno em um segundo. Eu congelei… Senti um arrepio na espinha e o sentimento de dor correspondente a estarem enfiando uma lâmina fina na base da minha coluna. Quando coloquei o pé para fora do salão, vi a “minha namorada” beijando outro menino, NA BOCA! E ainda por cima ele nem era meu convidado. Era o primo mais velho de um colega meu, que havia pedido se poderia ir à festa já que estaria passando férias na casa deste meu colega. Naquele momento enchi meus olhos de água e a única reação que eu consegui ter foi descer as escadas correndo desesperadamente até a garagem. Me escondi embaixo do ultimo lance de escadas torcendo pra que ninguém tivesse visto tudo o que ocorrera. Deste local, eu podia ouvir a porta de saída do salão, então fiquei lá escondido chorando até que todos os convidados fossem embora, algumas horas depois.
Acesse novamente o blog na próxima segunda-feira (01/04) a partir das 20h para ler a segunda parte desta história.
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