O problema do viciado nao é o vicio! Falo esta frase toda vez que alguém me pergunta se trabalho com algum tipo de vício ou adicção. No entanto, na maior parte das vezes, as pessoas olham com estranheza ou com aquela clássica “cara de ponto de interrogação”. Frequentemente me perguntam, se o problema não é o vício por que a pessoa não consegue parar de utilizar a substância em questão? Ai entra o conceito da triade da adicção.
Já trabalho com esta ideia a bastante tempo, muitas vezes tratei dependentes químicos, alcoólatras e outros vícios não tão corriqueiros. No entanto a ideia de que o viciado tem um problema com a substância em questão é muito rasa. Quando paramos para analisar toda a profundidade da psique humana conseguimos entender que o vício químico é apenas uma parte da tríade ou tripé do vício. Para que possamos entender melhor, vou trazer um exemplo:
Imaginamos o caso de uma pessoa que vou chamar de João, apenas para fins de exemplo. João possui 30 anos de idade e tem um relacionamento estável com Maria há 5 anos. João e Maria vivem uma vida normal, sem filhos. Moram juntos e trabalham durante o dia todo, se passando apenas a noite juntos como uma clássica família jovem. Assim como todos os casais, eventualmente ocorrem brigas. Em uma dessas brigas João e Maria decidem separar-se.
A partir desse momento a vida dos dois altera-se completamente, oscilando entre momentos de felicidade trazidos pela liberdade e momentos de profundo sofrimento motivado pela saudade e alguns arrependimentos por tudo que aconteceu. João volta a conviver com alguns amigos da época da escola e a compartilhar momentos agradáveis com eles. Apesar desses momentos, alguns deles perceberem que João não está bem. Surge uma oportunidade de todos irem a uma festa, João gosta da ideia.
Durante a tal festa, João e seus amigos bebem um pouco e lá pelas tantas um colega oferece uma substância a João. Na adolescência João sempre foi um menino centrado e nunca usou drogas. Então, cedendo às sugestões do colega, ele resolve experimentar. Joao já é adulto, está entre seus amigos e gostaria de viver uma experiência legal, afinal hoje João tem a capacidade e responsabilidade de fazer a suas próprias escolhas.
João vive uma experiência intensa e agradável com aquela substância. Durante essa experiência, sem que perceba, João revive algumas emoções que ele já conhecia, euforia, prazer, felicidade, entre tantas outras emoções agradáveis. É como se naquele momento todos os problemas simplesmente tivessem sumido e João pudesse viver a vida pleno, sem lembrar daquele sofrimento e até se fazendo acreditar que até a Maria deixou de existir.
No dia seguinte, está tudo bem… “Tudo bem” sem falar na Maria, que habita os pensamentos do João diversas vezes durante aquele dia trazendo lembranças que geram sofrimento e às vezes arrependimento. Após o trabalho joao vai pra casa e parece que aquele sofrimento vai se tornando cada vez mais insuportável. João sai sozinho, toma uma ou duas cervejas e retorna para sua casa, sem sucesso na luta contra as lembranças. João passa a noite em claro, no outro dia o pessoal no trabalho nota que ele não está bem.
Na próxima segunda-feira, dia 25/02 às 09:00 publicaremos a segunda parte da história do João, venha conferir!!